A queda do muro de Nova York
O Muro de Berlim caiu lá em novembro de 1989, e com ele, simbolicamente, o regime comunista da antiga União Soviética. O fato foi comemorado com grande estardalhaço pela imprensa ocidental e baconianamente festejado nos iates e castelos ao redor do mundo pelos neocapitalistas ao verem seu arquirrival, o sistema político e econômico comunista, esfacelar-se junto com o muro. Enfim, o então vencedor neocapitalismo podia soberanamente arreganhar os dentes selvagens em buscar todo o lucro que pudesse carregar, independente dos papos socialistas e trabalhistas de seus opositores. A única moral vigente de ora em diante era a do livre mercado.
A ganância imperou pelos mercados num frenesi psicótico, o capital não tem mais pátria, busca os lucros sem reponsabilidade com as pessoas, com os países, não deve satisfação a ninguém. Zilhões voam de um país para outro com um simples toque no teclado. É a orgia global do lucro e da agiotagem internacional que nada produzem. Instituições e bilionários embolsam bilhões de lucros: sentem-se os vencedores da dialética materialista histórica.
Mas o incrível aconteceu diante de nossos olhos! Em outubro de 2008, o exuberante e soberbo sistema capitalista vê seu muro trincar e começar a desabar com a quebra dos sistemas imobiliário e financeiro dos Estados Unidos, na figura simbólica do Lehman & Brothers, seguindo-se pela derrocada de vários países europeus, como Grécia, Irlanda, Espanha, Portugal e Itália. E lá se vão outros.
Antes totalmente avessos à interferência estatal na intocável e divinizada lei do livre mercado, do Estado min imalista, agora os banqueiros aceitam cinicamente e de bom grado o socorro trilhões e trilhões de dólares dos contribuintes, sangrados dos cofres públicos americanos e europeus para tapar os rombos da especulação irresponsável e criminosa dos papas do capitalismo selvagem. Direitos sociais e trabalhistas começam a ser restringidos, políticas sociais são suspensas por falta de verbas, o desemprego graça, a classe trabalhadora desempregada começa a pagar pelo que não comeu.
E agora, desde julho de 2011, constatamos que o rio de trilhões de dólares não foi suficiente para tapar os abissais buracos abertos pela ganancia de uns poucos, e a forte crise está batendo na porta de volta e a conta deverá inexoravelmente ser paga por alguém.
Os dois inimigos jazem no campo de batalha: um por querer eliminar a ganância humana, outro por ter lhe dado total e irrestrita liberdade.
E nós já sabemos pra quem vai sobrar a conta, não é? Sim, para os países pobres, para os pobres do mundo, para classe média, para as empresas que só sabem produzir e dar empregos, enfim, para quem não tem nada a ver com a farra da especulação financeira do mercado mundial, patrocinada por governos arrogantes, ineptos, irresponsáveis e arrestados pelo poder econômico.
Neste imbróglio, nós brasileiros, que há duas décadas vínhamos cumprindo a lição de casa, devemos mais uma vez apertar os cintos, pois ainda não estamos livres das grandes turbulências, cuja profundidade e duração ninguém ainda sabe avaliar, pelos menos até não baixar a poeira da queda do muro de Nova York.
Fernando Gregório