Ambientalismo e hipocrisia

11/12/2013 08:14

 

 

Ambientalismo e hipocrisia

 

 

    Todos nós, juntamente com os ambientalistas, somos favoráveis à proteção racional de nossas florestas, mas não podemos ser ingênuos e tolos a ponto de prejudicar nosso país e as futuras gerações de brasileiros nos pautando simplesmente pelo que os outros dizem o que devemos ou não fazer, sem antes um raciocínio correto dos interesses de nossa Nação.

    Em excelente artigo o Professor de Filosofia Denis Lerrer Rosenfield (Estado de São Paulo, 21/06/2010), afirma que no Brasil, se toda a legislação atual for aplicada, como querem essas ONGs nacionais e internacionais, várias áreas de cultivo, como as de banana e café no Sudeste, arroz, uva e tabaco no Sul, a pecuária no Pantanal e na Amazônia Legal, soja no cerrado, as florestas plantadas e a cana-de-açúcar, entre outras, ficarão inviabilizadas. Áreas já consolidadas há décadas, se não séculos, deverão ser desativadas, com reflexos evidentes na mesa dos brasileiros e na economia nacional. A comida ficará mais cara e o País, de exportador, tornar-se-á importador de alimentos e produtos agrícolas. Os países estrangeiros patrocinadores dessas ONGs ficarão muito agradecidos. E os "ambientalistas" gritarão vitóri

a. Vitória de quem?

    E por falar em ONG, conforme reportagem de Ricardo Mioto (Folha de São Paulo, 01/07/2010), a ONG americana Avoided Deforestation Partners foi responsável pelo trabalho batizado de "Florestas lá, plantações aqui".

    Veja só: um trecho polêmico do relatório dizia que eliminar o desmatamento nos trópicos e, portanto, no Brasil, até 2030 limitará a receita para a expansão agrícola e para a atividade madeireira nos países tropicais como o nosso, nivelando o campo de jogo para os produtores americanos no mercado global.

    Ou seja, o interesse americano de proteger as florestas tropicais – as nossas, é claro! - seria uma política para prejudicar a produção de carne, grãos, soja e madeira em países como o Brasil, diminuindo a concorrência com os produtores americanos. Quer dizer, todo o barulho de ambientalistas americanos e europeus poderia ter como fundamento impedir e prejudicar a produção agrícola no Brasil para não concorrer com produtores deles próprios. Em síntese, como diz o próprio nome do relatório "Florestas lá (no Brasil), plantações aqui (nos Estados Unidos)". Ou seria: Miséria lá (no Brasil), riqueza aqui (nos EUA).

    Desculpas esfarrapadas à parte que não me convenceram, esta ONG americana e seu relatório expressam muito bem o que pode estar por trás da política pseudo-protecionista das grandes potências mundiais e maiores poluidoras do planeta: usar de termos ambientalistas para traçar políticas de subjugação econômica aos países em desenvolvimento.

    Segundo Rui Daher, um relatório apresentado no final de 2010, pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostra que após quatro anos em queda os subsídios agropecuários deles, em 2009, voltaram a crescer entre os países membros e representaram 22% do valor bruto da produção rural. Na Noruega, chegaram a 61% da renda dos agricultores. Em números absolutos, trata-se de cerca de US$ 250 bilhões de subsídios diretos ao produtor americano e europeu, que os impedem de perder com a queda dos preços das commodities, e de quase US$ 400 bilhões de recursos para pesquisa e desenvolvimento. Pobres de nós brasileiros quando olhamos para estas cifras!

    Assim, de um lado eles não permitem que os brasileiros aumentem seu plantio, de outro enchem as burras de seus agricultores com dinheiro subsidiado. Aliás, o agricultor brasileiro é um sem subsídio, sem financiamento, sem apoio, desamparado pelos governos e explorado pelo mercado.

    Rosenfield apregoa: se fossem minimamente coerentes, estas ONGs deveriam lutar pela recomposição das florestas nativas em seus respectivos países. O diagnóstico do parecer é preciso. Os EUA destruíram "quase completamente" as suas florestas nativas, enquanto na Europa a destruição foi completa. O Brasil, com quase 50% de seu território mantido de florestas, por sua vez, responde por quase 30% do que restou de toda a cobertura vegetal original do planeta. Logo, os ambientalistas deveriam lutar pela recomposição das florestas nativas nos EUA, no Reino Unido, na Holanda, na França, na Alemanha, na Itália. Por que não o fazem? Será porque os interesses da agricultura desses países seriam contrariados? Poderiam retirar os subsídios agrícolas da pecuária européia e americana e, portanto, diminuir a produção de gases produzidos pelos rebanhos. Por que se imiscuem na pecuária brasileira, deixando a européia e a americana intactas?

    Defender o desenvolvimento sustentável baseado numa agricultura pujante soa mal nos dias de hoje, mas é preciso ter coragem cidadã e por a verdade sobre a mesa. A nossa mesa!

 

Fernando Gregório

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